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Peeling de fenol: influencer concluiu curso 42 h após morte de paciente
Documento da Polícia Civil sobre morte de Henrique Chagas foi entregue à Justiça
Natalia Becker, influencer e dona de uma clínica de beleza em São Paulo, concluiu um curso online de estética para aprender a aplicar peeling de fenol somente 42 horas e 30 minutos após a morte do paciente Henrique Chagas. É o que informa o relatório final do inquérito da Polícia Civil sobre o caso. O documento, finalizado em agosto, será analisado pela Justiça.
O empresário morreu por volta das 14h20 em 3 de junho deste ano após inalar o produto tóxico, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML) divulgado em julho. De acordo com a perícia, a vítima teve "parada cardiorrespiratória" provocada por "edema pulmonar agudo".
Em 5 de junho, Natalia foi indiciada pela polícia por homicídio doloso por dolo eventual por ter assumido o risco de matar Henrique. Ela responde pelo crime em liberdade.
Segundo a investigação, resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) determina que apenas médicos podem aplicar o peeling de fenol porque ele é considerado um procedimento invasivo. Precisando ser realizado em centros cirúrgicos. O fenol é um produto químico usado para escamar a pele, fazendo com que ela rejuvenesça depois.
Curso custou R$ 397
Natalia não é médica. Se apresentava como esteticista, mas também não é reconhecida como tal porque não em registro profissional na Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos (Anesco).
Segundo o relatório policial, a dona do Studio Natalia Becker pagou R$ 397, no ano passado, para fazer 31 aulas, de um total de 6 horas do curso. Mas só havia feito sete aulas até aplicar o fenol em Henrique. As informações foram fornecidas à investigação pela plataforma digital que hospedava o curso.
Natalia concluiu o curso às 8h50 do dia 5 de junho, horas antes de ir à delegacia para ser interrogada sobre a morte do paciente, informa a investigação. Lá, ela apresentou um certificado de conclusão, que, segundo a dona da clínica, a credenciava a aplicar o peeling com o produto químico. A data do documento: 5 de junho também.
Mas de acordo com a polícia, o curso digital que Natalia fez sobre fenol também não a autoriza a aplicar o produto. Por esse motivo, o 27º Distrito Policial (DP), Campo Belo, que investigava as causas e eventuais responsabilidades pela morte de Henrique, acabou responsabilizando a mulher criminalmente por homicídio.
O relatório final da polícia foi entregue nesta semana à Justiça. Caberá ao Ministério Público (MP) decidir se denuncia ou não Natalia. Se ela for acusada pelo MP, a Justiça poderá torná-la ré para que seja julgada pelo crime.
O g1 não conseguiu localizar a defesa de Natalia para comentar o assunto. Em junho, seus advogados tinham alegado que a cliente fez o curso em 2023, mas havia emitido o certificado do curso online somente em 2024.
Curso foi dado por farmacêutica
Vídeos e fotos feitos pelo namorado da vítima e por câmeras de segurança da clínica mostram Henrique antes, durante e depois do procedimento, passando mal na maca. Uma ambulância foi chamada e constatou a morte do empresário no local.
O curso que Natalia fez foi dado pela farmacêutica Daniele Stuart, de Curitiba, no Paraná. Ela também tem uma clínica de beleza. A defesa havia dito à imprensa em junho que Natalia concluiu o curso após a morte de Henrique e que sua cliente não tinha responsabilidade pelo que aconteceu.
A diferença é que o relatório policial foi mais preciso ao confirmar essa informação com a plataforma que hospedava a página do curso, que deu dados mais precisos.
Por causa da repercussão da morte de Henrique, a polícia paulista pediu para a polícia do Paraná investigar Daniele por suspeita de exercício ilegal da profissão de médico. Além de ensinar a aplicar o fenol, ela mesma faz o procedimento em seus pacientes.
Diferentemente do Conselho Federal de Medicina, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) informa que farmacêuticos podem fazer o peeling de fenol leve e atenuado em pacientes. Somente o fenol profundo não poderia ser feito por médicos. O CFM diz o contrário: que qualquer nível de fenol tem de ser feito por médicos.
'Fatalidade', diz dona de clínica
Henrique tinha 27 anos e era dono de um pet shop em Pirassununga, interior de São Paulo, onde foi enterrado. Henrique pagou R$ 5 mil pelo tratamento. O empresário se queixava de marcas de acne que adquiriu na adolescência.
Em entrevista exibida em junho pelo Fantástico, Natalia havia dito que a morte de Henrique "foi uma fatalidade". Ela tinha mais de 230 mil seguidores no Instagram, onde se apresentava como esteticista. Sua conta foi desativada após a repercussão do caso.
Natalia Becker é o nome fantasia de Natalia Fabiana de Freitas Antonio. Ela tem 29 anos e diz ainda possuir três clínicas com o nome Studio Natalia Becker: em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Goiânia. A clínica dela na capital paulista foi fechada pela após a morte do paciente por suspeita de irregularidades.