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PM investiga militares que cantaram música de exaltação ao Massacre do Carandiru

Massacre aconteceu em 1992, quando PM invadiu presídio para tentar conter rebelião; após 20 minutos, confusão terminou com 111 presos mortos a tiros ou facadas. PMs alegaram legítima defesa. Sobre o grupo gravado cantando, SSP disse que determinou investi

Por g1 09/07/2024 10h10 - Atualizado em 09/07/2024 10h10
PM investiga militares que cantaram música de exaltação ao Massacre do Carandiru
. - Foto: Reprodução

Policiais militares foram gravados cantando e dançando uma música em exaltação ao Massacre do Carandiru dentro do prédio da Rota, no Centro de São Paulo. O vídeo foi compartilhado nas redes sociais.

A informação foi publicada inicialmente pelo portal UOL.

O vídeo começa com um grito de guerra: "Cavalaria Brasil!". Em seguida, um homem identificado como soldado Breno passa a liderar o coro, que é repetido em conjunto por cerca de 20 militares, que batem palmas e sorriem enquanto cantam.

Entre os versos da música, estão:

"Lá só tinha lixo, a escória, na moral";
"Foi dado ‘pista quente’ para derrubar geral";
"Bomba, facada, tiro e granada";
"Corpos mutilados e cabeças arrancadas";
"A minha continência, Coronel Ubiratan".

O Massacre do Carandiru aconteceu em 1992, quando a Polícia Militar (PM) invadiu a Casa de Detenção na Zona Norte da capital para tentar conter uma rebelião de presos; 20 minutos depois, a confusão terminou dentro do presídio com 111 mortos a tiros ou facadas. Os PMs alegaram ter atirado em legítima defesa para se proteger dos presos, que, segundo as autoridades, estavam armados com revólveres e facas (leia mais abaixo).

Sobre o grupo gravado cantando, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que, assim que tomou conhecimento do vídeo, determinou a instauração de uma investigação por meio do Comando do Policiamento de Choque.

A pasta ainda afirmou que a conduta dos policiais que aparecem nas imagens não condiz com as práticas da instituição e que "medidas cabíveis serão tomadas".

Claudinho Silva, ouvidor das polícias em São Paulo, apontou que, assim que tomou conhecimento do material, determinou a abertura de um procedimento na Ouvidoria e acionou a Corregedoria da PM para o órgão tomar as providências necessárias e cabíveis.

Letra da música


"Cavalaria Brasil
Esquerda, ô
Esquerda, direita, Choque!
Hoje eu te apresento o 1º Batalhão
Aquele que acalmou a Casa de Detenção [Carandiru]
1992, logo pela manhã, o clima já era tenso
A caveira já estava sorrindo para o detento
Lá só tinha lixo, a escória, na moral
Foi dado ‘pista quente’ para derrubar geral
Bomba, facada, tiro e granada
Corpos mutilados e cabeças arrancadas
O cenário é de guerra, tipo Vietnã
A minha continência, Coronel Ubiratan
Vibra, ladrão, sua hora vai chegar
Escola de Choque tá saindo pra caçar"

Massacre do Carandiru


Em outubro de 1992, a Polícia Militar invadiu o Pavilhão 9 da Casa de Detenção [Carandiru], na Zona Norte da capital paulista, para tentar conter uma rebelião de presos que era transmitida ao vivo pela TV.

Vinte minutos depois, a confusão terminou dentro do presídio com 111 detentos mortos a tiros ou facadas. Os PMs alegaram ter atirado em legítima defesa para se proteger dos presos, que, segundo as autoridades, estavam armados com revólveres e facas.

Entre 2013 e 2014, a Justiça paulista fez cinco júris populares e condenou, ao todo, 74 policiais militares pelos assassinatos de 77 detentos. A defesa dos PMs alegou que eles atiraram em legítima defesa, após serem atacados por detentos com armas de fogo e facas que queriam fugir. Os outros 34 presos teriam sido mortos pelos próprios companheiros de cela.

Vinte e dois policiais ficaram feridos na ação, mas nenhum deles morreu. Para o Ministério Público, os policiais executaram detentos que já estavam rendidos.

Condenação de militares


Dos agentes condenados, cinco morreram e atualmente 69 deles continuam vivos. Mais de 30 anos depois, ninguém foi preso. Os PMs foram punidos com penas que variam de 48 anos a 624 anos de prisão. Pela lei brasileira, ninguém pode ficar preso mais de 40 anos por um mesmo crime. Apesar disso, todos os agentes condenados respondem pelos crimes de homicídio em liberdade.

Indulto de Natal


Em dezembro de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) assinou um decreto que concedeu indulto a policiais condenados, ainda que provisoriamente, por crime praticado há mais de 30 anos e que não era considerado hediondo à época.

Membros do Ministério Público de São Paulo que atuaram no julgamento do massacre do Carandiru entendem que o indulto beneficia os PMs condenados pelas 111 mortes ocorridas em outubro de 1992 (há mais de 30 anos, portanto). Como o indulto não é automático, cabe à defesa dos policiais acionar a Justiça.

Agora, o Supremo Tribunal Federal deve julgar a constitucionalidade do indulto concedido em 2022. Os efeitos do decreto estão suspensos desde janeiro de 2023, quando a então presidente do STF, Rosa Weber, acolheu uma ADI (ação direta de inconstitucionalidade) ajuizada pelo ex-procurador-geral da República Augusto Aras.

Coronel Ubiratan


O tenente-coronel Ubiratan Guimarães, que comandou as tropas da PM durante o massacre, chegou a ser condenado pela Justiça, em 2001, a 632 anos de prisão pelos assassinatos de 102 presos.

Em 2006, no entanto, Ubiratan se tornou deputado estadual pelo PTB e passou a ter foro privilegiado. Julgado naquele ano pelo Tribunal de Justiça (TJ) em São Paulo, ele foi absolvido. Os magistrados consideraram que o então PM não participou da ação.

Ubiratan foi assassinado em 2006, dentro do seu apartamento. Uma namorada dele foi acusada de envolvimento no crime, mas foi absolvida pela Justiça.