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Professora supera depressão após a perda de dois filhos e do divórcio
Edjania Oliveira, 41, descobriu força interior após série de tragédias classificadas por ela como o maior vazio que já experimentou. No mês da campanha Setembro Amarelo, g1 traz série de reportagens sobre a saúde mental.
A condição da fé é inexplicável, assim como a origem dos seus mistérios
na espiritualidade. Talvez por isso que a professora Edjania Oliveira,
41, descobriu uma força interior após perder dois filhos de forma
trágica, algo que aterrou seu peito como o maior vazio que já
experimentou. Foi como se o sol tivesse sumido - seguir com a própria
vida não tinha mais importância nenhuma.
No mês da campanha Setembro Amarelo, criada para a prevenção ao suicídio e promoção dos cuidados com a saúde mental, o g1
publica uma série de reportagens sobre pessoas que enfrentaram
episódios traumáticos, mas que conseguiram se recuperar com ajuda
profissional e apoio psicológico.
A ligação que uma mãe tem com um filho vai além do cordão umbilical.
Para a Ciência, esse vínculo é também hormonal e emocional. Em
diferentes culturas, a figura materna é representada com ternura,
bondade e amor, como “Pietà”, famosa obra do italiano Michelangelo que
mostra o sofrimento e o olhar piedoso da Virgem Maria segurando o corpo
do Cristo morto.
Foi esse sofrimento que Edjania experimentou em um período marcado por
uma série de acontecimentos traumáticos, que chegaram um após o outro,
contribuindo para o agravamento da depressão, sintomas ansiosos e
pensamentos suicidas. A perda do primogênito foi “uma dor imensurável”.
“Tudo começou com a morte do meu primeiro filho, em 2009. Tentei me
reerguer, mesmo anestesiada pela dor, então busquei forças em Deus e em
mim mesma. Depois de um tempo, voltei para a sala de aula, pois sentia
que o contato com as crianças ia me ajudar”, disse a professora Edjania
Oliveira.
No entanto, em 2010, ela também enfrentou dias extremamente dolorosos.
Seu segundo filho foi atropelado por um caminhão e precisou ser
hospitalizado por oito dias, mas sobreviveu. No mesmo ano, engravidou. A
segunda perda veio em maio de 2011, dois dias após dar à luz.
“Tive a minha bebê e, por negligência médica, ela nem chegou a ir para casa
comigo; faleceu dois dias depois. Até hoje eu não entendo o que
aconteceu. Eu quase enlouqueci. Foi quando perdi o chão de vez e percebi
que já não tinha tanta força para lidar com a perda de outro filho”,
afirmou.
Para alguns pesquisadores, a fé não está ligada, necessariamente, a uma
religião. Sob esta ótica, pode ser compreendida como uma confiança
incondicional em crenças e conceitos que transcendem o tangível. Diante
disso, o psicólogo Diógenes Pereira explica que a fé é proporcional à
crendice humana.
No caso de Edjania, a fé foi um dos pilares fundamentais para se
reerguer. “Uma mulher que consegue exercitar o propósito da fé para se
reerguer nessas situações [adoecimento psíquico] pode superar o
pessimismo e enfrentar todas as atribulações e embates que surgirem,
independentemente do que seja. Ela carrega máculas, tristezas e perdas,
mas não deixa de viver”, afirmou o psicólogo.
A família e os alunos como rede de apoio
Diógenes Pereira defende o quanto é importante construir outros
alicerces para que o ser humano se sinta agarrado à vida, especialmente
para quem pertence a algum grupo de risco, com maior probabilidade de
cometer suicídio. Segundo o psicólogo, além dos profissionais de saúde,
deve-se criar uma rede de apoio com pessoas próximas, como familiares e
amigos.
“A depender do quadro clínico que uma pessoa se encontra, ela precisa
de outros pilares essenciais, como o uso de antidepressivos ou outro
medicamento. Há várias alternativas para manter o equilíbrio e ter uma
boa qualidade de vida, seja a própria fé, organizar a rotina ou praticar
exercício físico, por exemplo. Encontrar conforto em quem confiamos é
fundamental”, explicou o psicólogo.
Diante de tantas perdas, Edjania quis desistir de caminhar, devido à
falência da vontade de viver. Mas sua persistência foi tão grande que
ela sente que renasceu. Para quem cresceu em uma casa com 13 irmãos,
criar uma rede de apoio foi, de fato, uma alternativa certeira.
“Recebi muito apoio da minha família. Nossa união ainda hoje é um dos
principais nutrientes que me fazem encontrar a força interior todos os
dias”, avaliou a professora.
Atualmente, ela trabalha com Atendimento Educacional Especializado
(AEE), para alunos com deficiência, em uma escola no município de Carneiros,
no Sertão de Alagoas. Ela relata que o sorriso sincero e o olhar puro
dos alunos foi como um combustível que a impulsionou a continuar firme
em sua jornada.
Enquanto professora, ela se alimenta diariamente da percepção de ser
uma referência positiva para tantas crianças, já que contribui
diretamente na construção social delas.
“Quando eu chegava na sala de aula e olhava para uma criança
cadeirante, tão feliz e sorridente, meu coração ficava mais aliviado.
Este fator me ajudou a me conhecer e identificar uma possível crise de
ansiedade antes mesmo que ela surgisse. Comecei a gerenciar minhas
emoções e atitudes para não magoar meus alunos nem outras pessoas”,
revelou.
Relacionamento abusivo agravou depressão e ansiedade
Edjania Oliveira compartilha outro episódio doloroso em sua vida, no
qual teve que resgatar, mais uma vez, toda coragem adormecida dentro de
si. Em 2018, ela tomou a decisão de encerrar um casamento de 15 anos.
“Outra coisa que contribuiu para minha depressão e ansiedade, foi o
relacionamento abusivo de 15 anos. Ao invés de me ajudar, ele [o
ex-marido] só piorou mais ainda a situação. Foi então que percebi que
não merecia passar por mais sofrimento. De joelhos, conversei com Deus e
tomei a decisão de me separar. Quando me levantei, senti uma força
imediata. Mais uma vez, senti o poder da fé e da justiça divina”,
confessou.
Essa decisão trouxe alguns conflitos estressantes, como a falta de
compreensão da filha, com saudades do pai, e os julgamentos da
sociedade, já que mora em uma cidade pequena, com cerca de 9 mil
habitantes. Edjania lembra que nos dias mais difíceis, perdeu a força
para tomar banho e fazer a própria refeição para os seus filhos. A
depressão tinha tomado conta de todo o seu corpo.
“Depois que me separei, comecei a seguir em frente e a me reerguer. Foi tudo um
processo. Fiz terapia, comecei a me arrumar, tirar fotos, e enxerguei
que não era feia nem nada do que o meu ex tentou colocar em minha
cabeça. Minha autoestima melhorou bastante", disse.
Diante das perdas e das marcas de um relacionamento abusivo, ela sentia
que estava dentro de um buraco escuro, totalmente sem sentido. Por
causa da fé que encontrou, sua voz torna-se referência para encorajar
outras mães e mulheres. Ela ressalta a importância dos cuidados com a
saúde mental para uma jornada mais colorida.
“Consegui superar todos os rótulos, traumas e agressões verbais.
Trabalhei as afirmações ‘eu quero’, ‘eu posso’, ‘eu consigo’, como se um
mantra ecoasse dentro de mim. Hoje, consigo lidar melhor com tudo isso.
Aprendi a pedir desculpas, a perdoar o outro. Não é fácil, mas estou de
pé. É possível superar a ansiedade e a depressão, independente de
qualquer dificuldade conflituosa que você enfrente”.
Denuncie violência doméstica
Uma campanha nacional para auxiliar mulheres que enfrentam violência
doméstica foi adotada e virou lei em diversos estados brasileiros,
incluindo Alagoas. Trata-se do Sinal Vermelho, em que vítimas podem sinalizar com um "X" escrito na palma da mão por batom ou outro tipo de material em órgãos públicos e privados.
Após a sinalização realizada pelas mulheres vítimas de agressão, os
atendentes vão chamar a vítima para uma sala reservada, ligar para o 190
e acionar a Polícia Militar. Caso a vítima sinta a necessidade de
deixar o local, o profissional anotará o nome completo dela, endereço e
telefone.
Além disso, há três delegacias da mulher no estado: duas em Maceió e
uma em Arapiraca. Nos outros municípios onde não há delegacia
especializada, a vítima pode se dirigir a qualquer delegacia da cidade.
Além disso, as denúncias também podem ser feitas por canais digitais ou
por ligação.