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Condição raríssima faz jovem de 23 anos parecer ter 13: 'Só quem me conhece sabe a minha idade'

Por G1 13/06/2023 11h11
Condição raríssima faz jovem de 23 anos parecer ter 13: 'Só quem me conhece sabe a minha idade'
. - Foto: Arquivo Pessoal

Luiz Augusto Márcio Marques, 23, mais conhecido como Guto, teve uma infância normal, até os 7 anos de idade, em Passo Fundo (RS).

A partir daí, ele começou a ter fortes dores de cabeça e, após uma crise, foi diagnosticado com craniofaringioma, um tumor raro e muito agressivo no cérebro, que atinge apenas um a cada 1 milhão de pessoas.

Aos 8 anos, Guto precisou passar por uma cirurgia para retirar parte do tumor. Mas o procedimento era arriscado — ele poderia parar de falar, enxergar, andar ou, em última instância, ter seu crescimento afetado.

E foi justamente isso que aconteceu. Em uma condição raríssima, o menino parou de envelhecer, na aparência, quando tinha cerca de 12 anos.

À BBC News Brasil, Guto conta que sempre ia ao médico com fortes dores de cabeça, mas nenhum conseguia diagnosticá-lo corretamente.

“As dores começaram a me afetar na escola, eu não conseguia estudar e alguns médicos diziam que eu tinha problema psicológico, preguiça; outros falavam que era apenas uma virose”, conta.

Ainda criança, Guto recebeu o diagnóstico do craniofaringioma após sofrer uma convulsão e ser atendido no hospital da cidade. “Daí disseram à minha tia que era arriscado, mas ou eu operava, ou morria em poucos dias”, relata.

No cérebro humano existe um líquido (líquor), que é fabricado no meio do órgão e absorvido por fora do cérebro a cada 8 horas. No caso de Guto, o líquor não era trocado e o acúmulo pressionava a região, ocasionando muitas dores.

Mesmo assim, para o menino, a parte mais difícil ao enfrentar essa situação veio após a cirurgia, com o isolamento. “Eu fiquei trancado numa sala de vidro para eles fazerem um acompanhamento geral e ver se eu não ia ter convulsões, se eu ia conseguir falar, enxergar e mexer as pernas”, relembra o jovem.

Ao final dos exames, aparentemente, estava tudo normal. Entretanto, a retirada do tumor atingiu a hipófise, uma glândula essencial localizada na parte inferior do cérebro, responsável, entre outras funções, por produzir o hormônio do crescimento.

“Eles fizeram muitos exames e viram que eu ia parar de crescer, mas não sabiam exatamente quando. Eu podia parar de crescer com 8, 9 ou 10 anos. Daí eu parei de crescer com 12”, explica o jovem.

Tumor do tamanho de um grão de feijão - Os médicos retiraram apenas 20% do tumor, o máximo que conseguiram para não afetar outras áreas cerebrais. Em seguida, Guto teve que passar por mais duas cirurgias.

“Na primeira, foi colocado um cateter que tirava o líquido do cérebro e ia até o abdômen (chamado derivação ventrículo-peritoneal ou DVP); e, na segunda, um cateter que ia dentro do cisto do tumor até um reservatório subcutâneo na cabeça, por onde se injetava a quimioterapia”, detalha o neurocirurgião responsável pela operação, Nério Azambuja Jr.

Segundo Guto, as quimioterapias foram muito longas e intensas. “No começo, eu fazia três vezes por semana, depois foi baixando para duas, depois uma a cada mês, até parar. Só que eu sofria muito, porque o cateter doía demais, eles colocavam injeções grandes dentro dele, então imagina”, desabafa o jovem.

Na época, havia a possibilidade de induzir o hormônio do crescimento, mas a chance de o tumor crescer junto era iminente, por isso, ele optou por não seguir com essa possibilidade.

Já na adolescência, ao perceber que sua aparência havia estagnado, o menino enfrentou outro processo difícil: o de aceitação.

“Quando já tinha uns 15 anos, acabei ficando revoltado, não conversava com ninguém, não saía da sala para o recreio, não respondia nem a professora e daí ficavam chamando a minha tia na escola”, recorda-se.

Com o passar do tempo, Guto foi aceitando melhor sua aparência jovial e, com o apoio da família, hoje leva uma vida tranquila ao lado da tia e do primo.

“Sem a minha família, eu não teria conseguido superar. Eu conheço gente que tem câncer e desiste de tudo”, pondera.