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Atendimentos delivery por aplicativo viram caso de polícia em Maceió

05/02/2023 22h10 - Atualizado em 05/02/2023 22h10
Atendimentos delivery por aplicativo viram caso de polícia em Maceió
. - Foto: Reprodução

O trabalho de um entregador por aplicativo é como o trabalho de um carteiro, que pega o produto na distribuidora e o entrega na porta da residência ou na portaria de um prédio, ele não entra no imóvel. É Luciano Borba, entregador que representa a categoria em Maceió, que define a profissão dessa forma. Mas a negativa dos clientes em descer para buscar os pedidos na portaria dos condomínios têm sido a principal causa de conflitos com os entregadores, e muitos dos atendimentos têm virado caso de polícia em Maceió.

As brigas muitas vezes são filmadas e viralizadas nas redes sociais. Aconteceu nesta semana. Uma entrega na Jatiúca acabou com o entregador - José Rodrigues - e a cliente na delegacia. A discussão iniciou, segundo depoimento do entregador e da consumidora, porque essa não queria descer. Em seguida, a briga foi potencializada pela recusa da mulher em passar o código ao entregador, que é obrigatório para finalizar a entrega e ele partir para outra corrida.

Ao longo da discussão, a mulher teria dado um soco no rosto do trabalhador, que ficou com o nariz ferido. Ela confessou a agressão, mas disse que agiu por instinto para se defender. Em decorrência da discussão, vários entregadores se reuniram em protesto na porta do condomínio da mulher, que mora na Jatiúca. Os dois registraram Boletins de Ocorrências, um contra o outro.

Não foi a primeira vez que José Rodrigues vivenciou situação semelhante. Ao longo dos três anos em que trabalha no ramo, ele afirma que já passou por isso pelo menos mais uma vez. No Santo Eduardo, quando ele também afirmou que não subiria até o apartamento, pedindo que o cliente descesse. Entretanto, da primeira vez, o caso não foi divulgado. "Resolvemos a situação no momento. Eu fui pressionado a aceitar as desculpas do cliente", afirmou.

Ele conta que, ao se negar a subir, o cliente teria descido e começou a xingá-lo de "vagabundo e preguiçoso". Por causa das agressões verbais, segundo conta o entregador, ele decidiu não repassar o pedido e ter informado que iria retornar ao restaurante com a comida. Na ocasião, de acordo com o relato, o cliente o puxou pelo braço. "Eu comecei a gravar a situação, ele parou de me puxar e se afastou". Assim, José Rodrigues voltou com o pedido para o restaurante, momento em que o cliente também se direcionou ao estabelecimento comercial.



"Quando cheguei lá, o pessoal do restaurante ficou do lado do cliente. Protegendo o cliente, que se fez de vítima. O pessoal acolheu ele dentro do restaurante e começou a dizer que eu estava errado", relata o entregador, que acrescenta:

"Então eu falei bem alto, que não era para eles fazerem isso, ficar do lado do cliente, que o cara tinha me agredido pelo simples fato de eu não ter subido. Todo mundo do restaurante começou a me olhar. E eu falei que eu não era um vagabundo, cachorro, que estava na rua para trabalhar e não ser humilhado por ninguém. Nisso, o pessoal me puxou para fora, outro homem veio para cima de mim. Eu a todo tempo estava sendo o errado da história", comenta o entregador, que trabalha todos os dias das 11h às 00h00.



Para esta ocasião, José Rodrigues disse que não levou o caso à polícia. "Naquele dia eu olhei para um lado, olhei para o outro - foi na rua que aconteceu - não vi câmera, não vi nada Seria minha palavra, contra a dele", conta.

"Queremos respeito dos clientes"

Os entregadores por aplicativo em Maceió não possui uma entidade representativa de classe, a exemplo de uma associação. Luciano Borba, considerado líder da categoria por muitos dos entregadores, fica à frente das demandas enfrentadas por esses trabalhadores. Segundo ele, a classe está lutando, atualmente, na criação da associação. Outra cobrança desses funcionários é a proibição, por parte dos condomínios, da entrada de entregadores nesses locais.



"Esse tipo de casos [agressões físicas e verbais] acontecem porque o entregador se recusa a subir. A plataforma, de qualquer aplicativo, não obriga o entregador a subir. É facultativo dele fazer uma gentileza ou não. Vai depender do entregador. Gera muito discussão, as ofensas são de baixo calão, como vagabundo, preguiçoso, 'esse não é lugar para você está trabalhando', 'é melhor trabalhar numa boca de fumo, que fique paradinho e não faz esforço'. Essas e outras frases que são ditas nas horas das agressões verbais. E agressões físicas variam muito do cliente, porque vai de socos a pontapés, como o murro que o colega levou no nariz", relatas Luciano Borba.

Para explicar a atividade laborativa, ele faz uma analogia ao trabalho do carteiro. "O trabalho do entregador é como um trabalho de um carteiro. O carteiro recolhe as correspondências nos centros de distribuição e leva até a porta do cliente e no prédio na portaria. Em relação aos horários, fazemos os nossos", diz o Borba.



Para Luciano, a proibição da entrada dos entregadores aos prédios e residenciais trazem benefícios também aos próprios condôminos.

"Vamos até aonde nosso veículo vai por questão de segurança do nosso único bem, que são nossas motos e bicicletas. Não somos obrigados a subir em prédios, pois as plataformas não nos obrigam. Queremos que todos os prédios e condomínios proíbam a entrada dos entregadores para a segurança dos trabalhadores e dos próprios moradores, pois já vimos casos de bandidos usando bag para realizarem assaltos. Do mesmo jeito que não sabemos quem são os clientes, eles também não sabem quem só os entregadores. Pode ser pai de família trabalhando para levar o sustento para casa como também pode ser um bandido querendo fazer alguma atrocidade", finaliza o entregador.



Cliente tem que resolver problema de pedido na plataforma, orienta advogado

O advogado especialista em Segurança Corporativa Thiago Mota considera que a melhor maneira do cliente resolver algum problema relativo ao pedido pelo aplicativo é buscar a própria plataforma. Aos entregadores, ele orienta que evitem reagir a qualquer agressão, provocação ou insulto e que registre imediatamente o ocorrido também na plataforma. Além disso, ele orienta que o trabalhador busque orientação de um advogado, para analisar se é o caso de fazer o registro de um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil.

"Estão sendo divulgados, quase que diariamente, casos de humilhações e agressões contra entregadores por aplicativos. Apenas na terça-feira (24), foram registrados dois casos de violência física contra entregadores, que são uma categoria profissional que merecem respeito e precisam do empenho das autoridades públicas para enfrentar essa situação", afirma o advogado.

Fonte: Gazeta Web