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Cinemas de Maceió têm “Fora, Bolsonaro” outra vez. Agora no filme “Medida Provisória”

Por Blog do Celio Gomes 18/04/2022 09h09 - Atualizado em 18/04/2022 12h12
Cinemas de Maceió têm “Fora, Bolsonaro” outra vez. Agora no filme “Medida Provisória”
. - Foto: Reprodução

Cinco meses depois de Marighella e pouco mais de um mês após Transversais, salas de cinema em Maceió voltam a ecoar o grito de “Fora, Bolsonaro”. Agora isso ocorre com o filme Medida Provisória, que marca a estreia do ator Lázaro Ramos na direção de um longa-metragem. Quando os créditos de encerramento vão aparecendo, os primeiros gritos puxam o coro contra Jair Messias.

Assim como nas duas primeiras vezes, testemunhei pessoalmente essas demonstrações de repúdio ao presidente que é fã de tortura e torturadores. Fui ao Arte Pajuçara na noite da última quinta-feira 14, na segunda sessão do primeiro dia de Medida Provisória. Lotação esgotada. O filme já percorreu festivais internacionais, atrai público e tem forte repercussão no Brasil conflagrado que está aí.

A história é chamada de distopia: num futuro nem tão distante assim, o governo brasileiro decide “devolver” ao continente africano toda a população negra. No discurso oficial, com o slogan “Resgate-se”, o Ministério da Devolução anuncia que se trata de “reparação” ao povo que foi retirado arbitrariamente de sua pátria de origem. Como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

O anúncio do ministro parecia uma piada, mas rapidamente se materializa como o pesadelo que de fato é. Começa uma caçada aos brasileiros “anteriormente designados negros”, identificados agora como pessoas de “melanina acentuada”. Quem não se apresentar voluntariamente será “devolvido” à força. A polícia sai às ruas para capturar os alvos.

Tenho pra mim que Lázaro Ramos acerta na maioria das escolhas como diretor. Como diriam os especialistas, a obra tem várias camadas. Em algumas cenas, o humor é desconcertante, mas não exagerado, o que dá uma inquietante aparência de normalidade àquela aberração descrita na decisão governamental. Como um dos protagonistas, Seu Jorge, mais uma vez, deixa assinatura particular na construção de um tipo inclassificável.

O filme é a adaptação de uma peça de teatro de 2011, escrita pelo baiano Aldri Anunciação. Ao levar às telas a história de um país que decide se livrar de parte de sua população, Lázaro Ramos assume um engajamento que incentiva e sobretudo provoca o debate. Um debate urgente e necessário. Afinal o Brasil é um país racista. “Democracia racial”, definitivamente, é uma fraude conceitual. Por aí.

Fonte: Assessoria