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Parlamentares alagoanas falam sobre participação feminina na política e expectativa de mais mulheres eleitas em 2022

26/12/2021 10h10
Parlamentares alagoanas falam sobre participação feminina na política e expectativa de mais mulheres eleitas em 2022
Tereza Nelma - Foto: REPRODUÇÃO

O número de mulheres que participam ativamente da política no Brasil, apesar de ter apresentado aumento nas últimas eleições, ainda não se iguala ao número de representantes do sexo masculino no país.

Para o próximo pleito, a expectativa de políticas alagoanas é que a participação feminina na política cresça. O CadaMinuto conversou com seis parlamentares mulheres para ouvir suas opiniões e reivindicações sobre o assunto.

Vejo que a participação da mulher na política ainda é baixa, mas ao mesmo tempo percebo que as mulheres estão mais interessadas porque se inspiram em representantes mulheres que estão em espaços que antes, eram predominantemente masculinos. Meu papel enquanto mulher e parlamentar é mostrar a minha atuação para que mais mulheres se inspirem, se sintam representadas e queiram participar do cenário político. Espero que nas próximas eleições, mais mulheres desejem concorrer aos cargos e não se inscrevam como laranjas. É necessário também que os políticos, os partidos e o Estado se comprometam com uma agenda mais igualitária e que a sociedade civil consiga estimular e exigir uma mudança nesse cenário. Recentemente a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Alagoas lançou uma obra que lista todos os deputados e deputadas que passaram pela Casa de Tavares Bastos no Período Republicano. São 130 anos de história, 40 legislaturas, 1.138 cadeiras ocupadas por 567 parlamentares estaduais. Destes 567 deputados, apenas 19 foram mulheres. Sinto-me honrada por ser uma das representantes de Alagoas e ocupar uma cadeira na Assembleia como mulher. Entretanto, reforço aqui a importância da participação feminina na política. Precisamos incentivar e impulsionar mais mulheres para que elas entrem na história da Assembleia Legislativa.

Espero continuar trabalhando em prol do povo alagoano, especialmente às mulheres que são vítimas de violência e aos cuidados com as pessoas. Tenho feito projetos de lei e indicações para ajudar na segurança e saúde das mulheres . Mas também quero continuar trabalhando para geração de emprego e renda; fortalecimento da agricultura familiar; para promover uma saúde digna; entre outros. Sobre as eleições das mulheres, como disse acima, espero que mais mulheres participem da próxima eleição e que elas queiram fazer parte desse processo democrático e importante para o nosso país. Somos a maioria do eleitorado, mas minoria nos cargos executivos e legislativos. Precisamos mudar esse cenário. Ter voz e lugar de fala em todas as Instituições.

Ainda somos minoria dentro do cenário político, mas buscando nosso espaço dentro da política, a partir do momento que somos eleitas para representar o povo e lutar pelas mulheres. A exemplo da Câmara de Vereadores, somos quatro entre 25 vereadores, lutando por mais representatividade e apresentando na pauta legislativa proposições também engajadas na causa da mulher, pelo respeito e igualdade de direitos.

Acredito que será positiva. A cada eleição as mulheres se propõem e juntam-se a campanhas de conscientização e mobilização mostrando a importância de aumentar a nossa representatividade. Muitas campanhas no país tentam incentivar o voto em mulheres. Já que representam 52,5% do eleitorado. A transformação não acontece da noite para o dia, é um processo que vem ganhando forma.

Acredito que a participação da mulher na política ainda é muito pequena, ainda precisa crescer muito aqui em Alagoas. Durante as campanhas, a gente percebe que as mulheres estão mais animadas, estão mais atentas na hora de chegar, de conversar, de cobrar, de dar suas opiniões, mas na hora de eleger mulher, a gente percebe que é muito pequeno, a gente percebe isso pelos números mesmo, não é um achismo, é um fato. De 25 vereadores, nós temos quatro mulheres aqui na Câmara de Maceió. Na Assembleia Legislativa, de 27 deputados, apenas cinco mulheres. Na Câmara Federal, entre três senadores e nove deputados federais, apenas uma é mulher. A gente percebe que, realmente, aqui no estado ainda há uma cultura onde o homem deve ser político e, por mais que as mulheres se interessem mais por política, na hora de votar, os homens ainda estão sendo mais eleitos. O que é engraçado, porque mais da metade da população, cerca de 52%, é composta por mulheres aqui em Alagoas. A gente precisa cada vez mais mostrar esse empoderamento, mostrar que a mulher não deve apenas opinar dentro de casa, ela tem o direito e também o dever de opinar na rua, de ‘levantar a bandeira’, de se candidatar e de votar em outras mulheres.

Principalmente em um colegiado, como é o Legislativo, Câmara de vereadores, dos deputados, a gente precisa de opiniões de visões de mundo diferentes para que todos os problemas sejam apontados para que a gente ache uma solução. Eu gosto de usar o exemplo do que eu passei na Câmara de Maceió, que eu estava grávida e, quando cheguei perto do final da gestação, fui solicitar licença maternidade e descobri que, na Câmara, que é espelho aí para o resto do estado, não tinha licença maternidade. Mas não porque não queriam dar licença maternidade, e sim porque, como existiam pouquíssimas mulheres na política municipal, nunca havia tido um caso de alguma vereadora precisar [da licença] e eles nunca se atentaram a resolver aquele problema.

Por isso que eu falo: representatividade é extremamente importante não por ser melhor ou pior do que outra pessoa, mas porque pessoas diferentes levam problemas diferentes para poderem ser analisados e encontradas as soluções. Então, precisamos muito que as mulheres ocupem esse espaço, que as mulheres tenham vontade e que acreditem em outras mulheres para diminuir essa disparidade, para diminuir essa diferença tão grande de de eleitos homens e eleitas mulheres.

É notório que a luta pela mulher na política, pela mulher ter espaço profissional, tem aumentado e acredito que, na próxima eleição, vai ser ainda melhor. A gente tem percebido que, no cenário nacional, as mulheres têm se destacado e se mostrado como boas opções. Nesta pandemia da Covid-19, a gente percebeu, no mundo, que os países que mais evoluíram e tiveram melhores resultados no enfrentamento à pandemia eram liderados por mulheres. Acredito que isso já vai abrir muito a mente, vai fazer com que a gente olhe as candidaturas de mulheres com outros olhos e, além disso, a nível nacional, a gente percebe que os partidos têm cada vez mais colocado esperança na mulher, colocado mais força para a candidatura de mulheres.

Por exemplo, nessa eleição, 30% das vagas têm que ser, obrigatoriamente, de mulheres. A gente percebeu que isso não estava rendendo muitos resultados, então falamos que 30% de todo o financiamento, de todo o dinheiro que o partido pode doar para candidatos, tinha que ser para mulheres. Mesmo assim, a gente percebeu que não estava tendo tanto resultado, porque colocava mulher como vice, só para poder fazer jus ao dinheiro, ou colocava mulheres ‘laranjas’, como vimos, nessa última eleição, várias denúncias. Então, teve mais uma inovação agora para a próxima eleição: que o voto da mulher, para poder contabilizar o dinheiro que o partido ganha, vai ser dobrado. Se um homem recebe 30 mil votos, o partido contabiliza 30 mil votos e, desse total, eles fazem o cálculo deles, a nível nacional, para saber quanto vai ser distribuído para cada partido. Já uma mulher que receber 30 mil votos, conta dobrado, então é como se fosse uma pessoa com 60 mil votos na hora de contabilizar o que vai ser repassado para os partidos. Isso é mais uma maneira que a gente está dando para os partidos poderem ver a necessidade de investir na mulher, para poder ver um retorno depois.

A gente vê a necessidade [do retorno], nesse momento, para poder incentivar as mulheres e incentivar os partidos a investir na mulher, para que ela possa ser candidata. Acredito que, com essas maneiras que a gente tem encontrado aos poucos, com esses incentivos que são dados aos poucos, a gente vai aumentar, sim, a participação da mulher, a participação efetiva para ter mulheres sendo eleitas. Aos poucos, a gente vai conseguindo achar uma igualdade, uma representatividade maior para que, a longo prazo, a gente não precise mais colocar esses esses incentivos, não precise mais colocar cotas para mulheres, porque a gente vai ter isso com naturalidade.

Ao longo dos séculos as mulheres vêm conquistando espaços. Não apenas na política, mas em espaços sociais de modo geral. Foi assim nas atividades laborais, nos direitos adquiridos como cidadã e também como indivíduo. O caminho é lento, íngreme, mas a história revela que as mulheres são pacientes e insistentes. A participação feminina no cenário político atual do nosso estado merece reconhecimento pela força, coragem, determinação e vitórias daquelas que o representam. Isso tanto vale para a esfera municipal, quanto estadual; no Legislativo e também no Executivo, por muitas cidades do interior. Claro que, numericamente, está longe, muito distante do ideal, tornando evidente essa disparidade, mas as mulheres ocupam lugares estratégicos, inclusive em secretarias de governo. Portanto, mesmo quando não são eleitas pelo povo, são lembradas e contempladas em cargos por sua capacidade técnica. Até as mais feministas das mulheres compreendem que essa revolução é lenta. De mesmo modo, a sociedade entendeu se tratar de um caminho sem volta. Daqui para a frente, só ocuparemos mais e melhores postos. Enquanto esta é a meta, o mérito é das incansáveis ativistas que defendem e seguem defendendo as pautas feministas ao longo de séculos. O discurso é cada vez mais uníssono e a palavra da vez é sororidade. Episódios machistas são parte dessa batalha e já não nos assustam mais.

Eu espero, sobretudo, a diminuição dessa disparidade numérica. Embora o desempenho das parlamentares alagoanas e das chefes municipais tenham traços de brilhantismo, não podemos nos contentar. Qualidade é importante, mas em termos de representatividade, quantidade também é. A mudança na lei eleitoral que estimula a participação feminina influenciando, inclusive no fundo eleitoral, deve ter impacto positivo nacionalmente. Eu espero e torço por mais deputadas (estaduais e federais), governadoras e também inúmeras senadoras eleitas por todo o Brasil, nas eleições de 22. Lamento que na disputa entre presidenciáveis, nomes femininos só tenham surgido na condição de vice. Acho difícil ter uma mulher brigando pela presidência ano que vem. Se vier, talvez venha Marina Silva, outra vez solitária entre os homens, e com poucas chances de vitória.

Atualmente, a presença das mulheres na política institucionalizada vem aumentando, porém o espaço ainda tem uma predominância masculina muito forte. O principal desafio segue sendo o sistema patriarcal: o machismo, as diversas formas de violência, a dupla e tripla jornada de trabalho, o silenciamento e a falta de oportunidades, é o que afasta tantas potências femininas da vida política.

A disparidade de representação de gênero ainda é muito presente e essa realidade só mudará quando mais e mais mulheres participarem ativamente da vida pública. É preciso abrir espaços para nós, não apenas na política, mas em todo contexto social. No cenário alagoano, temos mulheres fortes que participam da política e são essenciais, mas ainda é muito pouco o número de personalidades femininas que se destacam e conseguem romper, mesmo que minimamente, a bolha do machismo.

Precisamos cultivar a ideia de que eleger mais mulheres significa estimular a igualdade nos espaços de decisão. Espero que nas próximas eleições as candidaturas femininas recebam ainda mais apoio dos partidos e que a resistência dos homens frente à presença de mulheres na política seja dissipada. Que o processo eleitoral de 2022 traga gratas surpresas, principalmente com o aumento no número de mulheres eleitas, no executivo e legislativo. Alagoas é uma terra de grandes mulheres, que eu espero que não se intimidem, mesmo diante das adversidades que serão muitas. Muitas já estão se mobilizando, trabalhando seu nome, buscando alianças, e sim, eu acredito que poderemos ter novidades. E eu fico feliz com isso, desde que sejam candidatas de fato, e não apenas um número na contagem dos partidos.

A disparidade ainda é muito grande entre homens e mulheres a frente de cargos significativos da política alagoana. Precisamos ter um olhar sistemático sobre a participação feminina, desde o despertar da ambição política até as condições dentro de um partido. Eu sou, hoje, a única mulher representante de Alagoas no Congresso Nacional. A única entre 8 homens. Apesar de avaliar de forma positiva a participação das alagoanas que ocupam cargos políticos, acredito que é necessário um olhar atento e maior investimento para viabilizar a candidatura de novos nomes femininos à bancada alagoana.

Como Procuradora da Mulher na Câmara Federal, este ano, lançamos o Observatório Nacional da Mulher na Política, que vai fiscalizar a aplicação das leis nas campanhas eleitorais e na vida partidária, articular ações para ampliar a participação política das mulheres, sistematizar dados sobre produção legislativa relativa à mulher e monitorar a violência política. Nós, mulheres, estamos cada dia mais conquistando nossos espaços. Fomos atrás do direito de votar. Conseguimos. Fomos atrás do direito de sermos votadas. Conseguimos. Essa nova geração está em busca de representatividade, e eu acredito que vamos, cada vez mais, preencher o espaço no cenário político.

Fonte: Cada Minuto

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