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Mulheres quilombolas participam de Fórum de Conversas, Pretas e Periféricas em Maceió

Governo de Alagoas e o Iteral apoiaram o evento que contou com a presença de lideranças de 17 comunidades quilombolas do Estado

17/12/2021 20h08
Mulheres quilombolas participam de Fórum de Conversas, Pretas e Periféricas em Maceió
. - Foto: Carlos Rodrigues / Ascom Iteral

Nos dias 16 e 17 de dezembro aconteceu no Centro de Exposições Ruth Cardoso em Maceió, o Iyagbas Afro Contemporâneas – Fórum Estadual de Conversas, Quilombolas, Pretas, Periféricas. Idealizado pelo Instituto Raízes de Áfricas, a atividade enalteceu em seu título a palavra africana de origem iorubá que significa “rainhas”, além de contribuir para a promoção do diálogo amplo e coletivo sobre a suas realidades, autoestima e a construção de subsídios na fomentação de políticas públicas, sob a ótica de gênero e raça.

O evento contou com o apoio do Governo de Alagoas por meio da SECOM, SEFAZ, SEDUC, ITERAL, SEDETUR e SECULT; além da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), SEBRAE, Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) e as articulações do senador Renan Calheiros.

O Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) contribuiu para a infraestrutura do evento e na mobilização das lideranças quilombolas. A assessora técnica do Núcleos Quilombolas e Indígenas, Leone Silva, afirmou que a articulação e luta valem a pena para as discussões no Fórum. “A conquista pelos nossos espaços nunca vai ser fácil, mas é preciso sempre buscar a resistência, mostrar a força das mulheres”, afirmou.

A presidente do Instituto Raízes de Áfricas e idealizadora do evento, Arísia Barros enfatizou que o encontro busca discutir o empoderamento das mulheres quilombolas. “A gente precisa saber o que viemos fazer aqui, não em Maceió, mas nesse espaço. São as mulheres que vão mudar o mundo!”, exaltou. Cada mulher, jovem e adolescente quilombola no evento puderam contar suas experiências de vida e unir forças para superar as barreiras que são encontradas diariamente nesta sociedade. “É preciso fazer história, e que os quilombos de Alagoas são os mais miseráveis do Brasil, somos referência em resistência”, citou Arísia Barros.

Na palestra “Àgbará Dúdú (Força Negra)” ministrara pela professora Isabel Garcia, do Quilombo Urbano Capão do Negro Cristo Rei, de Várzea Grande (MT), destacou a importância da organização e união das mulheres na construção de um fórum permanente. “Esse evento vai dar uma visão de conhecimento, a interação com outras mulheres, é uma riqueza essa interação, estamos sempre aprendendo”, disse. Já a palestrante Geneci Flores, do Quilombo Flores, de Porto Alegre (RS) reforçou que a luta por respeito, igualdade e empoderamento preto renova-se em cada geração. “É bom falar sobre essa resistência, não é de agora, nossos ancestrais morreram por nós, temos que resistir também, nossa história é rica”, enfatizou ela.

As mulheres quilombolas debateram sobre desigualdades social, racial e de gênero que ainda enfrentam em seus quilombos marcada por padrões impostos. A ativista Arísia Barros comentou a luta que as mulheres quilombolas sofrem diariamente na sociedade e dentro das comunidades. A adolescente Gabriele de 14 anos, vive em um quilombo e contou sobre o preconceito que sofreu na infância e adolescência, por causa do seu cabelo. “Você não pode ser a Barbie, ela tem um corpinho perfeito”, disse ela refletindo sobre a fala que uma colega disparou contra ela. “É muito difícil a gente ser negra e quilombola”, completou.

Estiveram presentes representantes das comunidades quilombolas: Povoado Jorge, Alto do Tamanduá (Poço das Trincheiras); Bom Despacho (Passo de Camaragibe); Lagoa do Algodão (Carneiros); Alto da Madeira, Baixas e Ribeiras (Jacaré dos Homens); Guaxinim (Cacimbinhas); Cruz (Delmiro Gouveia); Birrus e Abobreiras (Teotônio Vilela); Serra Verde (Igaci); Jaqueira (Anadia); Passagem do Vigário, Mameluco, Lunga e Chão do Saco (Taquarana); Alto da Madeira (Jacaré dos Homens); Jacu-Mocó (Senador Rui Palmeira) e Carrasco (Arapiraca). Além de lideranças do Coletivo Cultural Quilombo de Saias e Luta; da Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais e da Coordenação Feminina Quilombola de Alagoas – As Dandaras.

No encerramento, foi criado o Fórum Estadual Permanente Quilombola Enfermeira Elizete dos Santos. Trata-se de uma homenagem à ativista do movimento negro que faleceu em 03 de novembro de 2019, aos 74 anos; uma referência de mulher negra, alagoana, profissional da saúde exemplar. Ela foi fundadora do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Alagoas (Sateal) e diretora do Sindicato do Nível Médio da Saúde de Alagoas (Sinmesal); marcou sua vida na luta dos servidores da saúde e em defesa do Sistema Único de Saúde, tendo atuado por 39 anos no Hospital Geral do Estado (HGE), com passagens pelo Hospital Escola Santa Mônica e Hospital Universitário, entre outros.
































Fonte: Ascom Iteral / Texto: Helciane Pereira e Carlos Rodrigues