Notícias

Há 10 anos, Antônio Pitanga busca apoio para filme sobre Revolta dos Malês

'Um negro baiano quer contar a sua história', diz ele, que roda longa com nomes celebrados do cinema e não desiste diante das dificuldades

Por Redação 29/11/2021 12h12 - Atualizado em 29/11/2021 14h02
Há 10 anos, Antônio Pitanga busca apoio para filme sobre Revolta dos Malês
Mesmo sem financiamento as filmagens na Bahia começam em janeiro do ano que vem - Foto: Reprodução

Fazer cinema no Brasil não é uma tarefa fácil. Se com investimento e temas "comerciais" já não é as mil maravilhas, imagina fazer um filme de época sobre um levante de escravizados, contra a escravidão, e sem financiamento ainda por cima, o sentido de dificuldade ganha outro patamar. A prova viva é o fato do ator Antônio Pitanga estar a 10 anos buscando financiamento para seu projeto. 

Antônio Luiz Sampaio ou como todos os conhecem, Antônio Pitanga, de 82 anos, não se constrange com as negativas que recebeu na vida: “Se eu trouxesse o ‘não’ para mim teria ficado pelo caminho.” A cada não que recebe, cria mais força para perseguir o sim. É o que Pitanga tem feito há dez anos na busca por financiamento para o filme "Malês", que trata sobre a Revolta dos Malês, rebelião de escravizados islâmicos que ocorreu em Salvador, em 1835. Antônio Pitanga quer contar a história que traz marcada na pele.

O longa metragem sobre o levante, o maior promovido por cativos no Brasil colonial contra a escravidão e pela liberdade religiosa, faz parte dos planos de Pitanga desde os anos 80. Era uma ideia compartilhada entre ele e o diretor Glauber Rocha (1939-1981), de quem era parceiro de trabalho e amigo: “Glauber, que falava muito disso, morreu. Mas esse projeto ficou na minha memória”.

Há dez anos, a ideia ganhou forma. Nome forte no cinema nacional, Antônio Pitanga começou, então, a “bater em portas” na procura do sim. Além de dirigir, em Malês ele vai interpretar o Griô (o mais velho de uma comunidade africana) Licutã. Outro ponto importante da produção é que 90% do elenco é formado por atores negros.

“Malês custa R$ 9 milhões. É um filme de época, precisa de um trabalho para isso. Estou apelando para que haja um apoio. Está mais do que na hora de tocar esse projeto de Brasil”. O diretor diz que cerca de 90% do elenco serão atores negros. “Não é um filme sobre o negro coitadinho, é o filme sobre o negro pensador”, conta o ator que tem em seu currículo mais de 50 filmes, além de mais de 30 novelas.

Mesmo com todas as dificuldades para obter apoio financeiro, as filmagens do longa sobre o levante na Bahia começaram no início deste ano. De acordo com o diretor e ator, 30% do filme já está concluído, com cenas filmadas no Rio de Janeiro. “As cenas mais importantes estão em Salvador, algumas em ruas do Pelourinho”, disse em entrevista.

Mesmo com poucos recursos, as filmagens em Salvador começam em janeiro de 2022.

Fonte: Revista Raça/Correio 24h