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Consicência Negra deve levar 10 mil pessoas à Serra da Barriga

Nos 326 anos da morte de Zumbi, Estado tem a maior seletividade nas mortes violentas; entidades denunciam racismo estrutural

20/11/2021 14h02
Consicência Negra deve levar 10 mil pessoas à Serra da Barriga
Dia da Consciência Negra é comemorado neste sábado (20) - Foto: Arnaldo Ferreira

Cerca de 10 mil pessoas estarão na Serra da Barriga, um União dos Palmares, neste sábado (20), Dia da Consciência Negra. O acesso obedecerá aos protocolos sanitários. Após as celebrações, ocorrerão apresentações culturais na Serra e na cidade.

O Atlas da Violência do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que, desde 2015, Alagoas é o estado que apresenta as maiores diferenças de vitimização entre negros e não negros, com taxas de homicídios de negros 42,9 vezes maiores do que as de não negros.

Os religiosos de matrizes africanas, capoeiristas, líderes dos movimentos negros anualmente sobem a serra e, entre as celebrações e manifestações, fazem reflexões da situação do País e particularmente do Estado.

“O Dia Nacional da Consciência Negra é data de autoafirmação e de resistência", disse uma das líderes do movimento, a jornalista Valdice Gomes, do Centro de Cultura e Estudo Étnicos Anajô, ao defender a luta contra o racismo estrutural. “As senzalas estão ai, é só olhar para as periferias. A própria Serra da Barriga não é reconhecida pelo Ministério da Cultura e pela Fundação Palmares”, lamentou.

Um levantamento a respeito da violência elaborado com informações oficiais do Ministério da Justiça, do Atlas da Violência, da Secretaria de Segurança Pública do Estado, do Fórum Nacional Contra a violência, constatou que, no período de janeiro de 2012 a outubro de 2020, 14% das mortes com a intervenção policial era de adolescentes com idades de 14 e 17 anos, negros. Oito em cada dez mortos na intervenção, eram negros.

O Cedeca Zumbi dos Palmares, que reúne nomes importante na garantia e defesa dos Direitos Humanos, como os advogados Elson Folha, Arthur Lira e o militante Pedro Montenegro, entre outros, constatou que as pesquisas mostram outra agravante: a maioria das mortes ocorre em bairros periféricos de Maceió e tem ligação profunda com o racismo estrutural.

O levantamento apresenta o crescimento de mortes de negros em Alagoas em uma década. Entre 2002 e 2012, houve um aumento percentual de 115,7%. Em 2012, por exemplo, foram assassinados 1.961 negros. Há que se destacar que os homicídios reduziram em quatro anos a expectativa de vida de homens negros. Entre não negros, a perda é de apenas três meses e meio.

O Estado apresentou o pior resultado entre todas as Unidades da Federação, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Aplicada por Domicílio (Ipea) divulgado na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra do ano passado. A Nota Técnica Vidas Perdidas e Racismo no Brasil calculou, para cada estado do País, os impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito, homicídio, suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negro e não negros, com base no Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e no Censo Demográfico do IBGE de 2010.

O estudo, de autoria do diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia (Ipea), Daniel Cerqueira, e de Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), analisou em que medida as diferenças nos índices de mortes violentas podem estar relacionadas a disparidades econômicas, demográficas e ao racismo. De acordo com os autores, “o componente de racismo não pode ser rejeitado para explicar o diferencial de vitimização por homicídios entre homens negros e não negros no País”. Novamente Alagoas é o local onde a diferença entre negros e não negros é mais acentuada – a taxa de homicídio para população negra atingiu, em 2010, cerca de 80 a cada 100 mil indivíduos. No Estado, morrem assassinados 17,4 negros para cada vítima de outra cor.

O Estado tem a maior diferença entre negras e não negras [brancos, amarelos indígenas], os homicídios foram quase sete vezes maiores entre as mulheres negras. Os dados são do Atlas da Violência 2020. De acordo com o estudo, em 2018, 68% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras. Enquanto entre as mulheres não negras a taxa de mortalidade por homicídios no último ano foi de 2,8 por 100 mil, entre as negras a taxa chegou a 5,2 por 100 mil, praticamente o dobro.

Apesar de Alagoas continuar em destaque negativo, no total, 19 dos 27 estados tiveram redução nas taxas de homicídios de mulheres entre 2017 e 2018, sendo Alagoas (40,1%) com uma redução expressiva, ficando atrás de Sergipe (48,8%) e Amapá (45,3%).

Fonte: Gazetaweb

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