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Pandemia ressalta essencialidade do transporte público para os maceioenses

Rodoviários não deixaram de trabalhar e ônibus não deixaram de circular nem no período mais crítico de transmissão do vírus; atualmente, todos os cerca de 850 motoristas estão vacinados com a segunda dose

25/10/2021 16h04
Pandemia ressalta essencialidade do transporte público para os maceioenses
Ônibus continuaram circulando normalmente mesmo durante a pandemia - Foto: Ailton Cruz

Os serviços essenciais, aqueles sem os quais muitas pessoas não conseguiriam dar conta de suas rotinas, ficaram ainda mais evidentes durante o período da pandemia. Enquanto muitos trabalhadores passaram a exercer as atividades profissionais de casa, outros tiveram que se arriscar e ganhar as ruas, seja para enfrentar o vírus de frente ou não. É o caso dos profissionais que atuam no transporte público, que não parou. Hoje, com 100% dos cerca de 850 motoristas vacinados com a segunda dose contra a Covid-19, fica até mais fácil falar. Mas a batalha que antecedeu a imunização foi árdua e, quase sempre, silenciosa e cheia de medos.

O motorista Josinaldo Pereira sabe bem disso. Apaixonado pela profissão que exerce, ele relata o período difícil pelo qual passou, junto aos colegas de profissão, durante a fase mais crítica da pandemia. Além das incertezas, os rodoviários também presenciaram a redução drástica do número de passageiros, o que, de certa forma, também deixou no ar o receio do desemprego.

E a redução foi realmente bem expressiva. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiro de Maceió (Sinturb), em 2020, a queda foi de quase 2 milhões de passageiros, quando comparado com o ano de 2019, passando de 5.122.347 para 3.019.451. Em 2021, o setor já começou a ver recuperação e, até o mês de agosto, já tinham sido contabilizados 3.163.382 passageiros.

Com pandemia ou não, para Josinaldo Pereira, o dia começa bem cedo. Às 5h, ele já está na rua à frente do volante, fazendo a linha 709, mais conhecida pelos maceioenses como Chã de Bebedouro – Ponta Verde (Mutirão). A rotina não varia muito, mas com o coronavírus à solta, os motoristas ganharam uma nova atribuição: a de fiscalizar o uso de máscaras pelos passageiros. Entre um ponto de ônibus e outro, olhares atentos para quem sobe no coletivo. A preocupação com a higienização das mãos também tornou-se uma constante diante do medo diário do contágio e de apenas uma certeza: a importância do transporte coletivo para a população.

"Dirigir ônibus é o que eu sei fazer, é o que eu gosto de fazer. Sinto que nasci pra isso, é uma paixão que tenho desde criança. Quando pequeno, entrava nos ônibus e ficava fascinado. Tive oportunidade de seguir outras profissões, mas optei pelo que gosto e não me arrependo. Durante a pandemia, o setor passou por muitas dificuldades financeiras. No início, a quantidade de passageiros diminuiu bastante, o que atrapalhou o rendimento das empresas e, estando ruim para as empresas, fica ruim para os funcionários também”, afirma o motorista, que atua no ramo desde 1998.

Segundo ele, o medo de se infectar e levar a doença para casa, era uma constante. “Foram momentos muito difíceis, a pandemia nos pegou de surpresa, e descontrolou tudo. Convivíamos com o risco de se infectar e trazer a doença para casa. O medo de acontecer algo e nós nos culparmos. Foi difícil para todo mundo, principalmente para nós que trabalhamos com transporte urbano, mas precisávamos trabalhar. Se trabalhasse era ruim, se não trabalhasse era pior, tínhamos que ir de qualquer jeito”, pontua Josinaldo.

Com o fim dos tempos nebulosos se aproximando, o motorista espera apenas uma coisa: mais reconhecimento por parte da população usuária de ônibus. “Somos uma classe sofrida e gostaria que em um cenário pós-pandemia fôssemos vistos com mais carinho”, pontua o rodoviário.

“Novo normal”


Com o fim de muitas restrições e o início de novas etapas no combate à Covid-19, foi preciso se adaptar ao ‘novo normal’, mas sem esquecer os cuidados necessários para evitar o contágio pelo vírus. Por parte das empresas, os coletivos continuam sendo sanitizados diariamente, assim como os terminais de ônibus. Também continua obrigatório o uso de máscara para quem vai fazer qualquer viagem.

E com o retorno do trabalho e das aulas de forma presencial, houve também a volta dos passageiros aos coletivos. Junto com eles, vendedores e artistas que costumam se apresentar nesses “palcos ambulantes” também voltaram a aparecer e subir nos ônibus com mais frequência.

Para algumas pessoas, nem é preciso esperar pelo fim da pandemia para reconhecer a importância do transporte público. A técnica de Enfermagem e servidora pública Anne Tatiana Viola Ferreira, de 55 anos, que não deixou de trabalhar em nenhum momento, relata dias de incertezas, mas também de muita troca com motoristas e também outros passageiros.

“No início foi muito complicado, até respirar e dizer: vai com medo mesmo! Foram dias difíceis, frota reduzida, pessoas amedrontadas. Inclusive eu. Uso de máscara e distanciamento. A cada decreto, uma novidade. Depois veio a restrição e os ônibus só paravam se tivesse lugar disponível para trasportar passageiros apenas sentados. Foi um momento horrível, porque passavam os ônibus e o motorista de longe já fazia o gesto de ‘lotado’ e passava direto. A maioria das pessoas colaborava, orientava, avisava ao motorista quando tinha vagas, e assim foi até o decreto seguinte. Eu tinha medo de falar que era da saúde, porque as pessoas ficavam receosas. Os motoristas foram muito legais e as empresas fizeram desenhos no piso para orientar o distanciamento. A gente também fiscalizava quem não usava máscara”, conta.

Atuando em uma área também considerada essencial, Anne conta que não tinha outra opção de transporte que não fosse o ônibus para chegar ao local de trabalho, o Hospital Escola Portugal Ramalho, no bairro do Farol. Residente no Tabuleiro do Martins, ela passava, nos dias de plantões, pelo menos uma hora dentro de um coletivo, durante o trajeto de ida e volta para casa.

“A maior vantagem é o uso da linha azul, que deixa tudo mais rápido. A desvantagem é quando o ônibus estava lotado, mesmo com a pandemia. Eu não tenho outra opção de trasporte e sou usuária do ônibus urbano, que considero essencial”, afirma, destacando o desejo de que o maceioense tenha outras alternativas de transporte público, como o VLT na parte alta da cidade.

Os rapazes do Coletivo Rap & Movimento (Rapem), que desde 2018 buscam espalhar arte e cultura para os usuários de transporte urbano de Maceió estão entre os que não pararam de se apresentar nem mesmo durante a pandemia. Adotando todos os cuidados necessários, eles levaram música e alegria para os passageiros até mesmo nos dias mais nebulosos.

“A missão sempre foi espalhar nossa mensagem para o maior número e para as mais diversas pessoas possível, e o ônibus é o lugar perfeito pra isso”, declarou o integrante Fellipe Motta.

Levando uma apresentação interativa com os passageiros, o grupo, formado, além de Fellipe, por Josias Brito, Fábio Marcos e Gustavo Henrique, aborda temas cotidianos, perrengues da vida dos brasileiros e improvisa rimas para o público, entretendo e distraindo trabalhadores e estudantes que andam nos coletivos.

“Quando estamos fazendo rap, estamos usando a nossa voz como forma de luta contra os opressores. Nós queremos igualdade e conhecimento para todos. Não aceitamos racismo, machismo, lgbtqfobia, ou qualquer outro discurso de ódio”, afirma.

E como cantou Rincon Sapiência na música Transporte Público, “a viagem é coletiva, mas também é pessoal”. Os rapazes tentam fazer do coletivo uma experiência individual para cada pessoa que permite se doar ao momento. As rimas com o público fazem o maior sucesso e já renderam ótimas histórias aos membros do grupo.

“Um senhor que estava no ônibus e viu nosso show falou que não poderia nos ajudar financeiramente, mas que queria nos dar um abraço, foi muito emocionante. Mas algo que nunca esqueci foi uma mãe que estava presente em quase todas as nossas apresentações, e disse que por nossa causa deixou o filho se aventurar no rap, pois era algo que ela tinha muito preconceito”, narra Fellipe.

Fonte: Gazetaweb

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