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Com atraso de até oito meses, pessoas com reação à vacina em AL denunciam demora do Estado na aplicação da 2ª dose
Alagoanos relataram ao UOL que o problema se deu por que o governo de Alagoas não tinha estrutura necessária para o acompanhamento
Reportagem publicada pelo portal de notícias UOL, nesta sexta-feira (24), aponta que alagoanos que tiveram reação à vacina da Covid-19 chegaram a esperar até oito meses para receber a segunda dose do imunizante. A matéria aponta que o problema se deu por que o governo de Alagoas não tinha estrutura necessária para o acompanhamento dessas pessoas.
Dados da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau-AL), obtidos pelo UOL, apontam que 1.041 pessoas reportaram evento adverso depois da aplicação de vacinas. À repórter Aliny Gama, uma médica, que preferiu não ser identificada, confirmou que há casos de segundas doses pendentes desde o mês de janeiro deste ano.
A reportagem cita que o espaço de aplicação de vacina com monitoramento médico de equipe hospitalar, com aparelhos de desfibrilador, intubação orotraqueal e medicamentos começou a ser montado e, somente em setembro, a equipe médica recebeu treinamento.
O Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais está funcionando dentro do Hospital da Mulher de Maceió, referência para atendimento de pacientes com Covid-19. Contudo, como o hospital é exclusivo para pacientes com o novo coronavírus, o atendimento na sequência de uma reação teria que ser feito em outra unidade de saúde, não no Hospital da Mulher, onde as vacinas serão aplicadas.
Uma moradora de Maceió, de 42 anos, relatou ao UOL que teve problema em reportar a reação que teve, porque o órgão estava em mudança, do Hospital Escola Doutor Helvio Auto, no bairro Trapiche da Barra, para o hospital da Mulher. O Crie-AL passou dois meses sem atendimento devido à mudança de prédio, e somente, na segunda semana de julho, 16 dias antes da segunda dose, que estava agendada no cartão de vacinação dela, houve sucesso na tentativa de contato com a equipe.
“Tive uma reação alérgica e extrapiramidal, que precisei ser internada em hospital, cerca de 15 minutos depois de tomar a vacina", conta a mulher, que disse ter juntado a documentação recomendada pela equipe do Crie-AL, com prontuário e análise de um médico infectologista, mas foi informada que precisaria esperar a sala ficar pronta. “Eu entrei em contato por e-mail e por telefone quase todos os dias, pois fiquei angustiada em não receber minha segunda dose no tempo correto", revelou.
A mulher conta ainda que depois de questionar sobre o motivo de ser obrigada a tomar o mesmo imunobiológico, uma vez que em São Paulo, Rio de Janeiro e até Salvador já se fazia intercambialidade de vacina — e haver uma nota técnica do Ministério da Saúde do dia 23 de julho sobre a possibilidade de troca —, a mulher diz ter ouvido a seguinte resposta: "O Crie-AL disse que eu não iria mais tomar vacina alguma, que não sabia o que fazer."
Apenas na quarta-feira (22), ao telefonar para o Crie-AL, a equipe informou que mudou o protocolo e que outra vacina seria aplicada. Ela aguarda a segunda dose desde o dia 30 de julho. Na quarta (22), ela foi informada por e-mail, pela equipe do PNI (Programa Nacional de Imunização) em Maceió, sobre seu agendamento, marcado para 23 de outubro, um mês após o início de atividades do espaço e 85 dias após a data correta em que deveria receber o imunizante.
À repórter Aliny Gama, uma outra alagoana, de 35 anos, disse ter se vacinado em março, por ser profissional da saúde, e ter confundido a reação adversa com estresse. "Quando cheguei em casa, quase não consigo tomar banho e precisei ir urgente para o hospital. Reportei o caso ao Crie Maceió e estou ainda aguardando a minha segunda dose. Sou profissional de saúde, estou exposta todos os dias, e me amedronta ter tomado apenas a primeira dose", contou ao UOL.
A mulher critica que terá que ir até o espaço onde o Crie-AL foi instalado justamente porque ele fica dentro de um hospital que trata apenas Covid-19. "Eu me sinto até constrangida com isso, mas se é a única forma, vou ser obrigada a tomar a vacina lá mesmo", desabafou.
Uma das entrevistadas formalizou denúncia sobre o caso no MPAL (Ministério Público Estadual de Alagoas). Ela também disse que vai levar o caso, na próxima semana, ao Cremal (Conselho Regional de Medicina de Alagoas).
À reportagem do UOL, o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), afirmou que a demora em ser aplicada a segunda dose de vacina contra a Covid-19 afeta diretamente a resposta imunológica e "nenhum paciente pode esperar tanto tempo."
"Causa estranheza Alagoas não ter feito a intercambialidade de vacina logo, pois até na bula desses imunobiológicos tem o tempo entre a primeira e a segunda dose, independentemente de ter tido evento adverso após a vacinação ou não. Nunca, em hipótese nenhuma, poderia se esperar tanto tempo", criticou o médico, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O infectologista também criticou que o local para aplicação da vacina contra a Covid-19 para pessoas com reação seja em um hospital que seja de referência no atendimento. "Isso é um erro incontestável. Conheço Alagoas e sei dos problemas da rede pública, mas passado esse tempo de vacinação já era para o Estado ter revisto todo esse atendimento ao paciente."
Segundo a reportagem do portal de notícias, a Sesau foi procurada há uma semana, mas, apenas na quinta-feira (23), quando o serviço finalmente passou a operar, a secretaria se posicionou sobre o assunto. Em nota, o órgão explicou que "há dois meses o Crie foi transferido para o hospital da Mulher, que não atende urgência clínica, e foi necessário montar toda estrutura de pronto atendimento e treinamento do pessoal em urgência".
Sobre a sala de monitoramento para pessoas que tiveram EAPV, o texto afirma que "essa estrutura já foi montada, os técnicos já foram treinados e o agendamento já está ocorrendo, bem como, a vacinação destes pacientes com precaução, dentro de todo protocolo de urgência e emergência."
O órgão não se posicionou sobre o fato de que, caso ocorra uma emergência, o paciente terá que ser socorrido para outro hospital, uma vez que o Hospital da Mulher, atualmente, é exclusivo para pacientes de Covid-19. Sobre a intercambialidade de imunobiológico, a Sesau admitiu ter tomado conhecimento sobre o assunto com a Nota Técnica número 6, divulgada pelo Ministério da Saúde, no dia 23 de julho de 2021, mas não explicou o porquê do procedimento só ser adotado dois meses depois.
A Gazetaweb também procurou a Sesau sobre o atraso na aplicação da segunda dose para quem teve reação, mas até agora não recebeu respostas
Fonte: Gazetaweb