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Ex-assessor diz que devolvia todo mês dinheiro da 'rachadinha' para ex-mulher de Bolsonaro

‘Se não aceitasse, não teria emprego’, afirmou Marcelo Luiz Nogueira, que trabalhou com Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente, e, entre 2003 e 2007, foi assessor de Flávio Bolsonaro.

Por Redação 03/09/2021 22h10 - Atualizado em 04/09/2021 14h02
Ex-assessor diz que devolvia todo mês dinheiro da 'rachadinha' para ex-mulher de Bolsonaro
Jair Renan Bolsonaro e Marcelo Nogueira em foto publicada em rede social do filho do presidente - Foto: Reprodução / Instagram

Ex-assessor de Flávio Bolsonaro entre 2003 e 2007 na Assembleia do Rio de Janeiro (Alerj), Marcelo Luiz Nogueira dos Santos confirmou a prática da chamada “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual e disse que devolvia mensalmente cerca de 80% do salário para Ana Cristina Siqueira Valle — na época, mulher do presidente Jair Bolsonaro.

A revelação foi feita pelo ex-assessor em entrevista ao portal Metrópoles publicada nesta quinta-feira (2). Nesta sexta (3), Nogueira falou ao G1 e disse que participar do esquema da "rachadinha" era condição para conseguir e manter o emprego. Segundo ele, Ana Cristina Siqueira Valle era responsável pela coleta de dinheiro dos funcionários do gabinete.

“[Ela] ficava [com 80% do salário], bem mais do que eu. E eu trabalhava, hein? Das pessoas que trabalhavam, que eram só laranjas, ela ficava com praticamente tudo. Só dava uma mixaria para usar o nome e a conta da pessoa. Eu ainda ganhava mais ou menos, porque eu trabalhava”, afirmou ao Metrópoles.

Segundo informou o portal, Nogueira estima ter devolvido cerca de R$ 340 mil do salário.

“Ela determinou o valor e ponto final. ‘Marcelo, vou te dar tanto’. Eu tinha que aceitar ou não. Se eu não aceitasse, não teria emprego. Eu estava desempregado, na merda, morava mal na época, sozinho. Vou falar que não? Aquilo para mim já estava muito além do mercado na época. Então, abracei”, declarou ao G1.

Marcelo Luiz Nogueira dos Santos esteve lotado no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro entre 2003 e 2007. Ele conseguiu o cargo por indicação de Ana Cristina, mãe do quarto filho do presidente, Jair Renan Bolsonaro.

Segundo Nogueira, Ana Cristina Valle foi a primeira a controlar o esquema da rachadinha, nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro, com o consentimento de Jair Bolsonaro. Mas que depois da separação do casal, Marcelo afirma que Jair Bolsonaro concordou que os próprios filhos, Flávio e Carlos, ficassem no comando do suposto esquema.

O ex-assessor disse não saber qual o destino do dinheiro que devolvia, mas afirmou que Ana Cristina Valle “tinha uma vida [em] que ela comprava tudo o que ela queria”.

“É o que eu te digo: ela que tem que dar conta disso aí agora. Não sei se ela dava [o dinheiro] para o Bolsonaro, dava para o Flávio, dava para o Carlos, eu não sei. Ela que tem que prestar contas com isso aí agora. Eu só sei que eu entregava na mão dela. Agora, o resto quem tem que prestar contas é ela”, afirmou.

De acordo com o jornal "O Globo", dados da quebra de sigilo de Nogueira indicam que o ex-assessor fazia saques em dinheiro vivo de até 93% de sua remuneração dias depois do pagamento. A prática replica o hábito de outros assessores da família Bolsonaro.

Após o divórcio de Ana Cristina Valle e Bolsonaro, em 2007, Marcelo Nogueira manteve proximidade com a ex-mulher e com o filho “04” do presidente, Jair Renan Bolsonaro, que o considerava "um grande amigo" (foto acima).

"Ao longo desses anos todos, você tem sido um grande amigo para mim. Você me ensinou muito, especialmente como me tornar uma boa pessoa. Sua empatia e seu carinho são contagiantes, e eu serei eternamente grato a Deus por tê-lo colocado em nosso caminho", escreveu Jair Renan em uma rede social em junho — nesta sexta, ele apagou a publicação.

Marcelo Nogueira chegou a acompanhar Ana Cristina Valle em uma temporada na Noruega (foto abaixo), logo após o fim do relacionamento dela com Jair Bolsonaro. No retorno ao Brasil, continuou prestando serviço a ela e ao filho, na casa onde moravam em Resende (RJ).

Por G1 Alagoas