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'Cavalo' é o primeiro longa-metragem alagoano a estrear no circuito comercial em quase 40 anos

Filme de Rafhael Barbosa e Werner Salles estreia esta semana nos cinemas e nas plataformas digitais; confira detalhes

11/08/2021 10h10 - Atualizado em 11/08/2021 14h02
'Cavalo' é o primeiro longa-metragem alagoano a estrear no circuito comercial em quase 40 anos
Filme - Cavalo - Foto: Zona10

Nas religiões afro-diaspóricas, como a Umbanda e o Candomblé, Cavalo é o
nome dado aos praticantes que são capazes de receber entidades em seus
corpos. Foi o simbolismo desse rito e a relação dele com a identidade
alagoana que inspiraram ‘Cavalo’, filme de Rafhael Barbosa e Werner
Salles Bagetti, que estreia nos cinemas e nas plataformas digitais no
dia 12 de agosto.

A estreia de Cavalo está cercada
por marcos para o cinema alagoano. Trata-se do primeiro longa-metragem
local produzido por meio de um edital de fomento e do primeiro filme
genuinamente alagoano a estrear no circuito comercial brasileiro em
quase 40 anos. Além disso, o longa chega às telas do Brasil no ano em
que Alagoas celebra o centenário do audiovisual e também comemora uma
década desde o lançamento do primeiro edital público no estado.

Antes da estreia nacional, os alagoanos poderão conferir o longa nos cinemas e
conversar com os diretores e elenco. Serão três sessões especiais, duas
em Maceió: terça (10), no Cinesystem (Parque Shopping Maceió), às 21h; e
quinta-feira (12), no Centro Cultural Arte Pajuçara, às 20h15. A sessão
em Arapiraca será na quarta-feira (11), às 21h, no Cinesystem do
Arapiraca Garden Shopping.

A partir do dia 12 de agosto, o público brasileiro poderá conferir o filme
alagoano nas telonas, em diversas salas de cinema. Além disso, a
produção, lançada nacionalmente pela Descoloniza Filmes e pela La Ursa
Cinematográfica, chega também em grandes plataformas digitais, como
Apple TV, Google Play, Vivo Play, Sky Play, Now e YouTube.

“É uma realização pessoal muito grande. Trabalhar com cinema é um sonho
desde que eu tenho 12 anos, um sonho de infância”, conta Rafhael
Barbosa, um dos realizadores. Nascido e criado em Arapiraca, ele lembra
que não havia cinema na cidade interiorana, mas era isso que fazia seus
olhos brilharem. “Venho de uma família pobre, filho de um militar e de
uma costureira. Mesmo assim, ousei sonhar em fazer cinema. Tive que
quebrar muitas barreiras para chegar nessa realização."

Cavalo
marca a estreia na direção de longas de dois dos mais ativos
realizadores alagoanos. Com trajetórias distintas no cinema, os
diretores Rafhael Barbosa e Werner Salles têm desenvolvido uma parceria
desde o documentário “Interiores ou 400 Anos de Solidão”, dirigido por
Werner em 2012. “Cavalo”, o primeiro longa de ambos, soma as
experiências de Rafhael em curtas de ficção (“KM 58”, “O Que Lembro,
Tenho”), e de Werner (“Imagem Peninsular de Lêdo Ivo”, “História
Brasileira da Infâmia - Parte 1”) em telefilmes documentais. Atualmente
os diretores trabalham em seus primeiros longas de ficção, “Olhe para
Mim”, de Barbosa, e “Edifício Miami”, de Salles. Na sequência, os dois
irão dirigir o longa-metragem de animação “Utopia”, novamente em
co-direção.

O filme também exibe a maturidade do audiovisual alagoano enquanto setor. Com o longa
em cartaz e mais de 100 filmes em produção, o cinema alagoano desponta
no circuito nacional. “Para o audiovisual alagoano é um marco
importante. Para chegar nisso, houve um caminho de construção coletiva,
tive que me aliar a outras pessoas que também tinham esse sonho, para
que a gente pudesse solidificar um movimento de cinema em Alagoas.
Estamos conseguindo, com muita luta, consolidar políticas públicas”,
lembra Rafhael Barbosa.

Em sua primeira década com políticas públicas e investimentos mais robustos no
audiovisual, Alagoas chegou nos festivais de Gramado, Havana, Roterdã,
Tiradentes e até no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Cavalo foi
contemplado no Prêmio Guilherme Rogato, da prefeitura de Maceió, com
recursos do Fundo Setorial do Audiovisual - FSA para sua realização.

“É um momento de muita visibilidade. Nos últimos anos, vimos muitos curtas
se destacarem e chegarem em lugares onde não tínhamos chegado ainda.
Mas com um longa-metragem, que tem uma outra característica, mais
comercial, a gente chega em um outro patamar de afirmação no circuito
nacional”, diz Werner.


"Acho isso muito simbólico. Esse momento que a gente tá vivendo agora é
reflexo das políticas públicas. As políticas públicas transformaram o
nosso setor. E Alagoas virou um exemplo para o Brasil de como o
investimento da Agência Nacional de Cinema e do Fundo Setorial do
Audiovisual se reflete em resultados quando há uma descentralização, um
fomento às cenas regionais, tirando esse histórico de o investimento
estar sempre centralizado no eixo Rio-São Paulo. Temos o centenário que
marca o pioneirismo de Guilherme Rogato e também nossa primeira década
de editais”, completa Barbosa.

“A INTUIÇÃO FOI NOSSO PRINCIPAL DISPOSITIVO”

Além de uma das realizações mais importantes do audiovisual alagoano, Cavalo, o filme em
si, é outra conquista: artística, histórica, estética. Elogiado pela
crítica e com 29 seleções em festivais nacionais e internacionais, o
filme alagoano chega às telonas com fama de “surpreendente”, “com cenas
inesquecíveis”, “necessário” - para citar somente alguns dos elogios.

“Um filme-dança que investiga de uma maneira muito original as pulsões da
religiosidade e da cultura brasileira, de maneira que não se costuma ver
em documentários sobre o tema”, disse o ator Matheus Nachtergaele, após
conferir uma sessão especial do filme no circuito Penedo de Cinema.

O cineasta alagoano Cacá Diegues também comentou sobre Cavalo. “Fiquei
impressionado com a ausência de retórica e de demagogia em sua
narrativa. Além de pura beleza e da qualidade técnica. Vários momentos
me emocionaram, o filme me encantou geral. As cenas finais, quase sempre
sob a chuva, são inesquecíveis."

A trama acompanha sete jovens artistas negros em seus processos
criativos, que são provocados a um mergulho em suas ancestralidades.
Compõem o elenco Alexandrea Constantino, Evez Roc, Joelma Ferreira,
Leide Serafim Olodum, Leonardo Doullennerr, Roberto Maxwell e Sara de
Oliveira. O grupo foi selecionado após um teste de elenco, e passou a
conviver num intenso processo de preparação. Na proposta de criação
coletiva, os protagonistas foram provocados a construir performances
inspiradas pelo arquétipo do cavalo e suas muitas simbologias.
Performance, dança e rito se entrecortam em três eixos narrativos.

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